Aves migradoras: vantagens de passar o Inverno em Portugal

A ave migradora maçarico-de-bico-direito islandês (Limosa limosa islandica) que no Inverno viaja do norte da Europa para sul, encontra na costa portuguesa as condições ideais para a temporada.

Num estudo realizado ao longo de dez anos por uma equipa internacional de investigadores de várias instituições (Universidade de East Anglia, Universidade de Cambridge, Universidade da Islândia), revela-se que Portugal pode ser um destino muito benéfico para esta e outras aves migradoras.

maçarico-de-bico-direito islandês (Limosa limosa islandica)
Maçarico-de-bico-direito islandês (Limosa limosa islandica)

O artigo, agora publicado na revista «Ecology», quantifica pela primeira vez os custos e benefícios para aves limícolas que passam a época não reprodutora em distintos locais da sua área de distribuição.

Durante a época não reprodutora (o Inverno, no hemisfério norte) milhares de aves descolam-se para latitudes mais a sul procurando ambientes amenos enquanto as suas áreas de reprodução são fustigadas por invernos rigorosos.

Este é o caso do maçarico-de-bico-direito Islandês que todos os anos deixa a sua Islândia natal para passar o Inverno nas zonas costeiras da Europa Ocidental, entre as Ilhas Britânicas e a Península Ibérica. Os investigadores da East Anglia estudam a ecologia e migração desta espécie desde 1995, marcando indivíduos com uma combinação única de anilhas de cor nas suas longas patas.

Este programa de monitorização conta com a contribuição de centenas de observadores ao longo da rota migratória que regularmente observam e enviam registos destas aves aos investigadores. Estudos recentes liderados por José Alves (Universidade de East Anglia), analisam as consequências para os indivíduos desta população que fazem a migração mais longa, de Islândia para Portugal.

Neste trabalho constatou-se que apesar de necessitarem de uma paragem migratória para reabastecer durante a migração pré-nupcial, estas aves são capazes de ultrapassar os indivíduos que invernam nas ilhas Britânicas e chegar a Islândia em primeiro lugar, podendo, assim, obter uma vantagem no momento de escolher os territórios e parceiros para se reproduzirem.

Este trabalho foi publicado na revista «OIKOS», em 2012, e demonstrou, pela primeira vez, que indivíduos que invernam mais próximo das áreas de reprodução nem sempre adquirem benefícios.

As aves foram estudadas durante dez anos

Na sequência destes resultados importava perceber quais as razões para tal capacidade. Assim, esta equipa mediu vários parâmetros de qualidade do habitat usado por esta aves no Inverno: abundância de alimento (invertebrados bentónicos), taxas de alimentação e custos associados com o clima local (termo-regulação), em três grandes áreas de invernada que cobrem toda a área de distribuição desta população: sul da Irlanda, este de Inglaterra e centro-oeste de Portugal (estuários dos rios Tejo e Sado).

Os resultados agora publicados indicam que as aves que invernam em Portugal encontram custos energéticos muito baixos e alimento em abundância, demonstrando níveis de sobrevivência muito altos apesar do seu período migratório ser mais longo do que para os restantes indivíduos desta população.

Além disso, comprovou-se que estas aves ocupam zonas de alta qualidade nas áreas de reprodução na Islândia obtendo assim um maior sucesso reprodutor do que outros indivíduos. Estes estudos vieram demonstrar a importância em perceber a dinâmica populacional das aves migradoras e a sua capacidade de responder a alterações ambientais, como por exemplo o aquecimento global, uma vez que vários factores ambientais influenciam a sua sobrevivência e sucesso reprodutor.

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