Corpo e mente respondem do mesmo modo aos estímulos eróticos? Qual a importância dos pensamentos e dos afectos na resposta feminina?
Os mecanismos que levam as mulheres a ficar excitadas quando têm à sua frente estímulos de natureza sexual ainda não são totalmente claros. A relação entre a resposta do corpo e a resposta da mente feminina a esses estímulos ainda não é muito clara para a ciência,assim como não são bem conhecidos os processos cognitivo-afectivos que regulam essas respostas.
Com o objectivo de investigar a contribuição dos pensamentos e dos afectos na previsão da excitação (física e mental) das mulheres perante filmes eróticos, a equipa do Sexlab do Centro de Psicologia da Universidade do Porto estudou em laboratório a resposta de 28 mulheres com uma idade média de 32 anos, sem quaisquer problemas sexuais e sem problemas de saúde física ou mental que pudessem ser relevantes para a sua resposta sexual.
O estudo consistiu no visionamento de filmes eróticos ao mesmo tempo que eram avaliadas as respostas das mulheres a esses filmes. Para avaliar a resposta física, mais concretamente a amplitude de pulso vaginal (indicador de excitação genital) foi usado um fotopletismógrafo vaginal (pequeno aparelho, de dimensões semelhantes a um tampão, introduzido na vagina pelas própria participantes)).
Além disso, foram também estudadas as respostas de excitação subjectiva, o afecto e os pensamentos no decorrer dos filmes, através de medidas de auto-relato (as mulheres indicavam a o que estavam a pensar e sentir durante os filmes).
Encontraram-se alguns resultados interessantes. Um deles foi a ausência de qualquer relação entre a resposta sexual percebida pelas mulheres (excitação subjectiva) e a resposta medida (excitação fisiológica) perante os filmes, isto é, a resposta física das mulheres e a sua percepção dessa resposta não correspondia, quase como se corpo e mente funcionassem em diferentes registos (este curioso resultado tem também sido encontrado noutros estudos internacionais).
Quando se procurou compreender quais os factores que melhor permitiam explicar ou prever a excitação sexual subjectiva, percebeu-se a importância dos pensamentos e do afecto.
O afecto positivo mostrou estar positivamente associado à excitação feminina mas foram sobretudo os pensamentos durante o visionamento dos filmes eróticos e em particular os pensamentos de excitação (pensar, por exemplo, “estou a ficar a excitada!” “tenho vontade de tocar-me”, “apetece-me estar ali”, “isto é mesmo bom”) foram os mais determinantes na resposta subjectiva das mulheres aos filmes.
Isto tem importantes implicações quer para o tratamento das problemáticas sexuais, quer para a promoção da saúde sexual feminina.
Um outro dado curioso foi que pensamentos e afecto mostraram ser totalmente irrelevantes na resposta genital aos filmes, isto é, na resposta física das mulheres avaliada pelo fotopletismógrafo .
Em suma, além de chamarem a atenção para o papel dos pensamentos e das emoções na excitação sexual feminina perante estímulos eróticos, os dados deste estudo mostram claramente que a resposta física e a resposta subjectiva de excitação parecem ser governadas por processos diferentes e que a excitação objectiva (do corpo) não tem qualquer relevância para a noção que a mulher tem de estar excitada.
Implicações
Por exemplo, é sabido que nas disfunções sexuais femininas, os processos de atenção estão claramente envolvidos e frequentemente relacionados com pensamentos perturbadores ou distractivos. Neste sentido, os dados do presente estudo sugerem a importância da incorporação de técnicas de reestruturação do pensamento e de treino da mente. Aprender a dirigir a atenção para as sensações corporais prazerosas poderia aumentar o prazer sexual e reduzir distracções dos estímulos eróticos. Além disso, o conteúdo do pensamento poderia ser abordado treinando a mente a concentrar-se nos aspectos positivos e excitantes da atividade sexual.